12 filmes são dirigidos por mulheres no FCG

Festival de Cinema destaca o talento feminino na cadeia audiovisual

A 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado será palco para as mulheres mostrarem que o talento feminino está presente em todos os segmentos da cadeira do audiovisual. Dentro e fora da tela, diante e atrás das câmeras, debatendo, ensinando, financiando: a programação está repleta de nomes femininos e recortes que enfocam o trabalho e a presença delas no cinema.

Nas mostras competitivas do Festival de Gramado, 12 filmes são dirigidos por mulheres. O destaque de 2017 é para a seleção de longas-metragens brasileiros, em que elas ocupam o posto de direção em quatro das sete obras que concorrem aos Kikitos. Em dois casos, elas reinam sozinhas no cargo: “Pela Janela” (Caroline Leone) e “Vergel” (Kris Niklison), curiosamente, ambas coproduções entre Brasil e Argentina. Já em “A Fera na Selva”, Eliani Giardini divide a cadeira com Paulo Betti e Lauro Escorel.

E em “Como Nossos Pais”, a diretora Laís Bodanzky, que também assina o roteiro, em parceria com Luiz Bolognesi, leva ainda a temática para o enredo, enfocando a vida de Rosa, uma mulher que quer ser perfeita em todas suas obrigações e precisa responder às distintas visões geracionais sobre o lugar da mulher: das filhas adolescentes e dos próprios pais.

A mostra de curtas-metragens brasileiros também vai provocar reflexão sobre o universo das mulheres, em três produções que, embora dirigidas por homens (um deles, transexual), abordam pontos de vista femininos. “Tailor” (Calí dos Anjos) é um documentário animado sobre um cartunista transgênero, integralmente feito por pessoas trans. “A Gis” (Thiago Carvalhaes) também documenta a vida de uma transexual - Gisberta Salce – que, neste caso, termina em tragédia em Portugal, onde ela foi assassinada em 2006. Já “Cabelo Bom” (Swahili Vidal) enquadra a questão de gênero e raça ao tratar sobre as pressões estéticas a que estão submetidas as mulheres negras.

Além destes, competem na mostra de curtas brasileiros “O Espírito do Bosque”, dirigido por Carla Saavedra Brychcy, “Postergados”, de Carolina Markowicz e “Mãe dos Monstros”, de Julia Zanin de Paula – este último também disputa os prêmios de curtas-metragem gaúchos, assim como “Gestos”, codirigido por Júlia Cazarré e Alberto Goldim e “Kátharsis”, que traz a assinatura de Mirela Kruel. Vale ainda mencionar a presença do filme “Substantivo Feminino” na seleção de filmes gaúchos fora de competição. O média-metragem dirigido por Daniela Sallet e Juan Zapata conta a valente história de duas ambientalistas pioneiras no Rio Grande do Sul: Magda Renner e Giselda Castro.

Entre os longas estrangeiros, a chilena Maite Alberdi assina “Los Niños” e a dupla argentina Virna Molina e Ernesto Ardito dirigem “Sinfonía para Ana”. Também é da Argentina que chega uma das homenageadas desta edição do Festival de Cinema de Gramado: a atriz Soledad Villamil, famosa por sua interpretação em “O Segredo de Seus Olhos”, que levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011. Soledad receberá o Kikito de Cristal, que no ano passado foi entregue à sua conterrânea Cecilia Roth, a primeira mulher a receber a honraria – na ocasião, a “chica Almodóvar” não perdoou: disse esperar que as próximas premiadas sejam todas mulheres, para equiparar os números de prêmios entre os gêneros. Já a brasileira Dira Paes, que ao longo da carreira de 33 anos incorporou e deu vida a mulheres de distintas regiões e classes sociais do país, será destacada com o Troféu Oscarito.

Canadá revitaliza parceria com o Brasil no 45º Festival de Cinema de Gramado

Uma parceria longeva, iniciada nos anos 80, responsável por qualificar o parque técnico e os profissionais brasileiros e que já gerou filmes de primeira linha como “Ensaio Sobre a Cegueira”, de Fernando Meirelles, será revitalizada a partir do Festival de Cinema de Gramado.

País homenageado da 45ª edição do evento, o Canadá desembarca na Serra Gaúcha com ânimo e bagagem para conquistar a simpatia dos produtores nacionais. “Esperamos que nossa presença em Gramado promova ainda mais vínculos entre os setores audiovisuais de nossos países”, observa o embaixador do Canadá no Brasil, Riccardo Savone.

A trajetória da cooperação entre os dois países remonta aos anos 80, quando um acordo entre a extinta Embrafilme e o National Film Board of Canada/L'Office national du film du Canada (NFB/ONF) deu origem ao Centro Técnico Audiovisual (CTAV) do Rio de Janeiro. Este foi o primeiro estúdio de pós-produção no Brasil, e foi inteiramente financiado pelos governos de ambos os países.

Com a abertura do CTAV, teve início um programa de desenvolvimento tecnológico e de recursos humanos em som e animação no Brasil, viabilizado através da importação de equipamentos e de engenheiros canadenses que instalaram a escola no local. Além de cursos de formação em solo brasileiro, o acordo possibilitou o intercâmbio de técnicos e cineastas brasileiros para o Canadá, que é uma referência no cinema de animação – os quatro criadores do AnimaMundi, por exemplo, estavam nessas turmas precursoras.

Anos mais tarde, em 1995, foi estabelecido o acordo de coprodução Brasil-Canadá, que está em vigor ainda hoje. Foi um dos primeiros acordos do gênero brasileiro, que, na época, só possuía cooperação formal com outros quatro países do mundo. Em meados dos anos 2000, os países fortaleceram ainda mais esse laços promovendo uma série de eventos da indústria audiovisual, que resultou em mais de US$ 50 milhões de coproduções em documentários, séries de animação e filmes de longa-metragem.

Além dessa expertise, o Canadá ostenta o posto de grande potência do audiovisual mundial: a proximidade com os Estados Unidos e as vantagens de sua moeda em relação ao dólar levaram os maiores estúdios de Holywood a abrirem filiais no país. Toronto, Vancouver e Montreal são ainda polo de desenvolvimento técnico de efeitos especiais e animação. Apenas em 2016, a indústria audiovisual gerou uma receita de 12 bilhões de dólares ao país.

“O Brasil também está fazendo história na indústria audiovisual e deixando sua marca, com um número crescente de produções em todo o país. Ao combinar forças, poderíamos fazer muito mais juntos”, assegura o embaixador, que estará na Serra Gaúcha para o evento.

Homenagem acontece no 150º aniversário

A escolha do Festival de Cinema de Gramado em homenagear o Canadá nesta 45ª edição se dá no ano em que o país norte-americano comemora o 150º aniversário da nação. “É especialmente significativo que ocorra neste momento”, completa Savone.

A delegação canadense presente no 45º Festival de Cinema de Gramado conta com cineastas, roteiristas e representantes de três das mais importantes escolas de cinema do mundo: Vancouver Film School, VanArts – Vancouver Institute of Media Arts e Toronto Film School.

Os profissionais terão espaço destacado no Gramado Film Market - Conexões, onde oferecerão oficinas de roteiro e animação e paineis sobre a indústria de cinema local e os mecanismos de financiamento no Canadá – estes aliás, possuem particularidades de grande valia, como o fato de que o financiamento está sempre atrelado a um acordo de venda, o que garante a distribuição da produção aduiovisual.

Além disso, haverá sessões diárias de cinema no Museu do Festival com filmes produzidos no país, especialmente de jovens mulheres que estão em ascensão. É o caso de duas cineastas que virão pessoalmente a Gramado: Carol Nguyen e Amber Fares, ambas multipremiadas, apesar da pouca idade.

A escolha por trazer mulheres para representar a pujante produção do país é uma estratégia do Canadá de valorizar o talento feminino em diversas áreas. Neste sentido, no início de 2017, houve um esforço de cooperação entre a Agência Nacional do Cinema do Brasil, a Telefilm Canada e a Women in Film and Television Toronto para compartilhar estratégias que promovam a presença de mulheres no cinema e na televisão.

Release: Matheus Pannebecker - Pauta Assessoria

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