Aparelho Digestório

Qual a importância em nossa vida?

“Eu não engulo isso!” Esta e outras expressões da vida cotidiana ilustram bem a importância da digestão em nossa vida. É tão importante que usamos as mesmas expressões (engolir, enjoar, digerir, estou cheio) para situações não ligadas ao alimento. Representa o nosso primeiro contato com o meio ambiente, depois da respiração. O bebê, além de respirar, nada mais faz exceto comer, digerir e eliminar os dejetos e a urina. Todo desenvolvimento depende de uma boa capacidade de ingerir, processar e digerir alimentos, sem falar da água, é claro.

 

Parece algo simples, mas a capacidade de obter energia dos alimentos – finalidade última da alimentação – é um processo, extremamente, complexo, realizado por uma máquina extraordinária.

 

Onde começa a digestão? A primeira resposta que nos ocorre é estômago, mas é incorreta. A digestão começa na boca. Ela é uma trituradora de alimentos: os dentes incisivos cortam, os caninos espetam, os molares esmagam, a musculatura das bochechas aperta, revira e a língua é uma... ‘colher’! O resultado é uma pasta alimentar que é conduzida por um tubo muscular – o esôfago - até o estômago. O alimento não vai “caindo”, como pode parecer, mas ele é empurrado pela musculatura do esôfago. Assim, é possível engolir alguma coisa até de cabeça para baixo (vide os macacos!).

 

O estômago é um órgão que tem “programas” parecidos com a nossa máquina de lavar. O alimento é submetido a um ataque de ácido e enzimas, é revirado para cima e para baixo, como se fosse uma centrífuga. Conforme o bolo alimentar fica na consistência ideal, ele vai deixando o estômago pelo piloro, um buraquinho muscular que se conecta ao duodeno. A partir do duodeno, tudo se assemelha a uma linha de montagem de fábrica: o duodeno recebe grandes quantidades de bile e enzimas pancreáticas que tem várias funções, resumidas em duas: facilitar a absorção de gorduras e digerir os constituintes básicos dos alimentos, as proteínas, açúcar, vitaminas, sais minerais, etc.

 

O conteúdo duodenal segue pelo longo intestino fino onde, de fato, os nutrientes entram na corrente sanguínea. Segue-se o intestino grosso que se encarrega de processar tudo o que o corpo não aproveita (cascas, gomos de frutas, talos de verduras, etc) e formar as fezes. A evacuação é um capítulo à parte e não é um processo simples, como parece.

 

Por que o fígado faz parte do sistema digestivo? Porque tudo que o intestino absorve passa pelo fígado. Além disso, o fígado produz uma infinidade de substâncias necessárias para nossa sobrevivência.

 

Fica fácil concluir que muita coisa pode dar errada em um sistema tão complexo. Sintomas digestivos podem decorrer de algo tão simples quanto próteses dentárias mal ajustadas, com mastigação deficiente, até doenças sérias, como pancreatite, cirrose do fígado, câncer gástrico e outras.

 

O melhor método para se fazer diagnósticos em Gastroenterologia é uma boa consulta. A verdade sempre mora nos mínimos detalhes. Somente munido com todas as informações na mão, aliado a uma boa dose de sensibilidade e experiência, é que o médico pode decidir o que fazer, que exames pedir, conduta adotar, etc. Exames feitos sem nenhum critério, automedicação, principalmente com omeprazol e similares, longa espera para investigar uma queixa na esperança de melhora com chás caseiros e sugestões de curiosos, tudo isso pode ser a diferença entre ter ou não saúde, ou pode até mesmo levar à morte. 

 

O aparelho digestivo é um dos que mais adoece e uns dos mais difíceis de investigar. Não se trata de assustar, mas de dar um bom conselho: não se brinca com aparelho digestivo. Qualquer sintoma constante (mais de duas semanas), frequente (passa e volta), intenso, emagrecimento e/ou anemia sem causa evidente, deve ser investigado com critérios próprios para cada caso.  

 

Mas, doenças à parte, numa coisa todos concordam: comer é bom demais, né? Então, vamos cuidar bem desta maravilhosa fábrica de processamento energético.


Por Dr. Luiz Carlos A. Sette - Gastroenterologista (CRM/SC 9406)

Dr. Elmerson Caldas Pitrowsky - Cirurgião Geral/ Cancerologista (CRM/SC 5209)

(48) 3524-6348

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