Em paz com a balança

Conheça os métodos que ajudaram Alírio e Miriam a vencer os obstáculos do sobrepeso

 

Quantas frutas você comeu hoje? Na sua refeição, havia saladas? Que tipo de exercício você pratica?

 

Para Alírio Pereira dos Santos, 42 anos, até pouco tempo atrás, as hortaliças eram incomuns em seu prato, e o sedentarismo, uma realidade, assim como para quase metade dos brasileiros, que estão acima do peso, segundo o Ministério da Saúde. A vida agitada da atualidade fez com que as pessoas modificassem seus hábitos alimentares, trocando alimentos saudáveis por alimentos industrializados que viciam e geram ansiedade e podem levar à compulsão, com o agravante da falta de exercícios físicos. Por esses fatores, a obesidade tem sido tratada por especialistas como um vírus/epidemia mundial, ‘contraindo’ cada vez mais vítimas, sem escolher idade nem sexo.

 

Com tantos fatores incômodos sofridos por essa faixa da população, muitas pessoas têm buscado alternativas que as auxiliem no combate a obesidade e por consequência, minimizem outras doenças causadas pelo sobrepeso.

 

 

AS ALTERNATIVAS

 

Balão Intragástrico

Entre as mais evidentes e procuradas está a técnica de reduzir o estômago com um balão, o chamado Balão Intragástrico, cujo procedimento além de não-cirúrgico, é solução para emagrecer sem cortes e com recuperação imediata. O método tem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o qual consiste na colocação de uma ‘balão’ de silicone preenchido com corante azul (metileno), via endoscopia digestiva. “O método leva cerca de 20 minutos e pode ser realizado num processo ambulatorial, onde a pessoa é anestesiada, o médico introduz pela boca do paciente, um pequeno tubo com o balão até o estômago. Dentro do estômago o balão é posicionado e enchido com (cerca de 700ml) do líquido que ocupa de 40 a 50% do volume do órgão. Para a sua retirada, que leva no máximo seis meses, é feita, novamente, através de endoscopia, portanto, oferece uma parcela mínima de risco ao paciente. O líquido azul, não causa nenhum dano ao corpo e é expelido pela urina.Também, é uma forma de precaução em caso de rompimento da prótese, quando o médico deve ser avisado, vindo a substituí-lo ou retirá-lo”, explica o Dr. Manuel C. de Brito Cardoso, especialista na área.

 

Manter uma alimentação saudável parece clichê, mas não é. Depois que Alírio conheceu e aplicou essa técnica de redução - o balão intragástrico, sua vida mudou totalmente, começando pelo equilíbrio ao comer. “Hoje, meu almoço é muitas saladas e apenas 1 bife”, revela o empresário araranguaense do setor de comunicação visual, que lutava contra a balança há 10 anos. “Já tinha feito vários tipos de dietas, nutricionistas e remédios emagrecedores, até decidir, esse ano, pelo procedimento não-cirúrgico, porque acreditei ser uma forma mais simples e menos agressiva.” Com 121kg e um índice de massa corporal (IMC) igual a 41, ele agora, colhe as boas mudanças. Sob a orientação da equipe do Dr. Manuel C. de Brito Cardoso da Clinigastro, Alírio já conseguiu perder mais de 20 Kg e segue com planos para chegar aos 95 kg.

 

O balão funciona como um impulso para evitar a ‘tentação’ alimentar. “A presença do balão em meu estômago age como um bloqueio contra o excesso na hora da refeição, servindo como uma ‘muleta’ para me ajudar na reeducação alimentar, pois a prótese preenche espaço no estômago, fazendo eu me sentir cheio com pouco”, diz Alírio enquanto revela esta resistência como algo positivo. “É preciso querer muito, porque aquela vontade de comer incontrolável não diminui com o balão, ele traz é uma saciedade mais rápida, forçando-me a selecionar os pratos e a quantidade deles, isso fez com que hoje eu consiga me alimentar em curtas etapas. Mantenho-me consciente desse sacrifício e me sinto adaptado à mudança”.

 

Para Alírio, os inconvenientes foram somente nos três primeiros dias, quando ocorreram náuseas e vômitos devido à sensação de peso, e a nutrição, neste período inicial, era a base de líquidos.

 

Repensar o comportamento alimentar é uma missão quase impossível para a maioria das pessoas. Este pensamento mais o meio social tornaram o mundo mais redondo. No Brasil, quase metade da população 48,5%, está com sobrepeso, e 15,8% estão obesas, deste total, pelo menos 4 milhões de habitantes estão no estágio ‘mórbido’, e a maior incidência se concentra no sexo masculino. A decisão do empresário ajuda a driblar estas estatísticas, frente a uma nova visão do homem sobre os cuidados com a saúde. “Não foi um momento extremo, apesar de histórico na família com problemas cardíacos, o que me levou a procurar ajuda médica foi mesmo pela minha saúde, vinha aumentando meu peso cada vez mais com o sedentarismo. Além disso, qualquer esforço extra eu cansava, nem o meu hobby, o Kart, conseguia praticar mais e me sentia mal cada vez que precisava comprar roupas e nenhuma servia. Hoje resta um mês para finalizar este tratamento, e me sinto disposto a continuar, graças às mudanças sentidas no meu humor, na minha tolerância, e a passagem do número 52 para o 48. Uma vitória!”, finaliza.

 

 

A Cirurgia Bariátrica Bypass

Quem sofre com esta doença crônica está sujeito a adquirir outras, tais como a hipertensão arterial, triglicerídeos, colesterol, diabetes tipo 2 com graves consequências no coração. Mais do que riscos, o lado emocional é afetado com os sentimentos de frustração, irritação e infelicidade, e em alguns casos geram danos ao profissional, como foi na vida da advogada gaúcha radicada em Criciúma, Miriam P. Schelp, 54 anos, a qual não tolerava mais o seu excesso de peso, se agravando por 30 anos, quando começou a engordar. Tentou regimes, dietas das básicas às mais drásticas, até mesmo se submeteu a tratamentos químicos para emagrecer, vindo a ganhar o peso tudo de novo. “Estava no meu limite, pesando 110 kg, meu IMC era de obesidade mórbida, faltava pouco para chegar ao máximo os fatores de glicose e colesterol. Somado a isso, ainda estava a minha baixa autoestima e o meu ritmo de trabalho reduzido pelo cansaço e problemas ocasionados pela insatisfação física”, descreve Miriam ao justificar sua busca por socorro cirúrgico. Ela reuniu todas estas complicações que ‘bloqueavam’ sua vida para então decidir pela cirurgia bariátrica, realizada, há mais de 1 ano, pelo cirurgião Dr. Irani Alberton Junior de Criciúma, com o qual já compartilha uma revolução em seus hábitos, a favor da saúde e mais feliz com 40 quilos a menos.

 

Dr. Irani diz que funciona mesmo como uma revolução no modo de viver do paciente, porque seu comportamento nutricional deve mudar drasticamente, devido à colaboração da cirurgia ByPass Gástrico, método utilizado em Miriam, que traz o equilíbrio entre os hormônios da fome, a grelina e o PYY.

 

Segundo o cirurgião, entre as principais causas da obesidade estão a predisposição genética, distúrbios alimentares, comprimento intestinal e produção hormonal. “Estes dois últimos dificultam a tentativa da pessoa perder peso em virtude da fome ser hormonal, pois o hormônio grelina, produzido pelo estômago, é liberado na corrente sanguínea quando este está vazio, e age no cérebro com a sensação de fome; já o hormônio PYY, produzido pelas células do intestino, é a força contrária à grelina, é ele quem ‘avisa’ ao cérebro a saciedade”, ressalta ele. O ByPass gástrico consiste em diminuir o tamanho do estomago e encurtar a superfície de absorção intestinal, mas sem a retirada de nenhum órgão para a redução. “Cerca de 10% do estômago é grampeado e isolado do restante, sua capacidade fica em torno de 60 cm³. Um pequeno estômago é formado e unido ao resto do aparelho digestivo mediante uma ponte (bypass) até o intestino. Assim, os hormônios da saciedade se aceleram, fazendo o paciente comer menos,” enfatiza o especialista. É uma cirurgia mista, diminui o reservatório gástrico e a superfície de absorção intestinal.

 

Dr. Irani destaca que, após a operação, a pessoa tende a comer menos, o que não deve ser uma preocupação, pois essa é a quantia necessária. “As pessoas são acostumadas a comer demais, muito rápido, mais ainda em momentos estressantes. Neste pós-operatório o paciente aprenderá a mastigar mais e de maneira adequada”, finaliza. “Eu tinha pressa na hora de comer, além de uma compulsão por chocolate, antes da cirurgia eu não conseguia ir para a cama sem uma barra do lado”, conta a advogada Miriam. Esta fase de exageros, segundo ela, terminou depois do tratamento cirúrgico, lidando agora com um período de reeducação. “Nem está sendo difícil, embora nos meses iniciais seja só de líquido ou pastas, ao voltar a se alimentar, você sente que consegue frear os excessos”, finaliza.

 

As vantagens da cirurgia bariátrica ByPass são ainda mais seguras, quando feitas através da videolaparoscopia, método cirúrgico introduzido desde a década de 80, o qual reduz a chance de complicações clínicas e garante uma recuperação mais rápida. Outros motivos também justificam essa cirurgia como uma arma, cada vez mais comum, na guerra contra a obesidade, cuja técnica é a única aprovada e com muitos méritos no combate a esta doença e outras relacionadas a ela, que desaparecem no tratamento pós-cirúrgico. Por conta de todos esses benefícios, a disposição dos operados melhora, as limitações diminuem e a qualidade de vida, é claro, é incrementada. Essa modalidade de cirurgia se tornou tão frequente, que somente no Brasil foram 60 mil operações em 2011, (dados SBCBM) e esses números colocam o país na 2º posição no ranking de cirurgias bariátricas, atrás apenas dos Estados Unidos.

 

Alírio e Miriam já venceram a parte mais difícil dos seus tratamentos. Agora, conscientes do compromisso assumido para atingirem seus objetivos (dieta balanceada e exercícios físicos regulares), torcem, sobretudo, quando todos reparam, além do visual, a revolução na qualidade de vida deles, na mesma proporção em que eles visualizam no espelho seus novos manequins.

 

Da Sul Fashion - Elisa Gabriela Slovinski

*Uma publicação da ed.41º da Revista Sul Fashion (de setembro/12). 

Veja também