Ivo Humberto Alfaiate
A moda, no geral, faz parte de um mundo efêmero. É tão dinâmica e eclética, principalmente com relação às roupas, que mudam estilos, cores e padrões, numa rapidez sem fôlego. Se reinventa, ressurge, transforma ou muda totalmente.
Mas, desde o seu berço histórico, criado para vestir Luís XIV, em seguida, considerado vestuário oficial de homens de negócios, o terno executivo permanece parte integrante da cultura masculina como forma de apresentar-se com boa aparência, e também é determinado como uma peça usual para as posições de poder, a exemplo os trajes usados por autoridades como presidente da república e executivos de altos escalões.
“O uso do terno tem a grande influência dos descendentes italianos, os quais o utilizavam diariamente, e para tal, contratavam os serviços dos alfaiates, dentre eles, meu pai, que construía cerca de cem ternos, para uma única festa, e ficava trabalhando um período todo para dar conta das encomendas. Até mesmo no calor do verão o uso do terno era apropriado, daí em tecido de linho em tons claros, tecido complicado de passar e ainda num tempo sem energia elétrica, com ferro à brasa”, descreve Ivo Humberto, cujo nome e trabalho são referência em roupas sociais masculinas sob medida na região sul catarinense e norte gaúcho, e vem ultrapassando tendências e estilos ao longo de 18 anos. Um ofício que aprendeu com o pai, que também se chama Ivo, oriundo de família de agricultores e que tornou-se um conhecido alfaiate nos anos 60, profissão que aprendeu com um profissional da época, oficial de alfaiataria, na cidade de Três Cachoeiras (RS). O pai de Ivo Humberto, começou a praticar a alfaiataria em Capão da Canoa (RS), e em 1969 mudou-se para Sombrio (SC) junto aos demais familiares e sua esposa Ladiomar de Souza Borba, período em que ela esperava o nascimento do primogênito Ivo Humberto, em 18 de outubro daquele ano.
Assim, Ivo Humberto nasceu e cresceu em meio à alfaiataria de seu pai. “Com esta profissão meu pai sustentou toda a família e criou três filhos (eu, e meus irmãos: Patrícia e Rafael) e ainda conquistou muitos sonhos”, fala ele, com orgulho.
Quando era pequeno, Ivo Humberto acompanhava o pai atender aos clientes que vinham de longe encomendar trajes novos para as festas de igreja, muito comuns na região até os dias de hoje, e ajudava a pregar botões, tirar os alinhavos das peças, fazia bainhas, mas ouvia insistentemente o pai recomendar aos filhos que estudassem para trabalhar fora, numa outra profissão. Naquela época, Humberto não esperava seguir os mesmos passos do pai, apesar de descobrir certa aptidão para esse trabalho. Ouviu os conselhos do pai e foi estudar. Após formado em Contabilidade pela FUCRI/UNESC, fixou residência em Criciúma, enquanto trabalhou num banco. Neste período, a família Souza Borba adquiriu algumas máquinas no intuito de abrir uma fabricação de calças com a marca Ivo alfaiate, em Sombrio. Foi a partir dessa iniciativa, que Ivo Humberto, aos 25 anos, decidiu mudar a profissão de bancário, entrando de vez para a carreira de alfaiate e retornando a sua cidade natal, Sombrio.
O conhecimento para tal, obteve observando seu pai, e aperfeiçoou, de acordo com ele, desmanchando as peças e refazendo novamente, o que o intitula um profissional autodidata por vocação e por paixão ao tradicional traje masculino feito sob medida, o qual se refere ao conjunto calça – paletó – camisa, e outras combinações como ternos, casacos, coletes e gravatas.
Segundo, Ivo Humberto Alfaiate, a resposta positiva do cliente ao seu formato próprio de fazer um terno formal ou informal é sua melhor satisfação. “Meu primeiro freguês, foi de Santa Rosa do Sul, ele só soube que foi quem inaugurou minhas criações, há cinco anos. Deu muito trabalho, pois fiz e refiz várias vezes e ainda fui conferir pessoalmente o resultado, no dia do evento para o qual ele queria o traje. Como me agradou , percebi que realmente nasci para esse ofício”, conta.
A alfaiataria está relacionada como um símbolo de luxo e status, aliás o terno masculino continua sendo o traje civil clássico em todo o planeta, justamente pelo valor da continuidade formal no mundo moderno, ou seja, ele é o agente apropriado representante da posição e da sexualidade do homem urbano e abriu um novo campo de atuação, os trajes casuais femininos introduzidos pela criadora do tailleur, Gabrielle Chanel. Deste modo, tornou-se produto manufaturado em série, distribuído pelos comércios varejistas em várias formas, tamanhos e tecidos, exemplos disto estão as tendências da moda com cortes de alfaiataria (informações do site fashion bubbles).
Esta mudança social do modo de produção sob medida para o industrializado, diminui, portanto, o papel do profissional da alfaiataria, o qual sempre produziu a alta costura em pequenas quantidades. No entanto, Ivo Humberto alfaiate acredita na tradição das pessoas em obter peças exclusivas, bem acabadas, conforme sua preferência de tecido e material; com corte clássico e com o seu padrão único de corpo. Prova disto é a resistência e consolidação da loja de alfaiataria que passa por gerações na mesma família ampliando mercado e atraindo novos clientes. Atualmente, Ivo Humberto junto a mais seis funcionários e o irmão caçula, o jovem alfaiate e estudante de Moda, Rafael de Souza Borba, trabalham com a produção de uniformes sociais de alta qualidade para qualquer repartição pública ou empresa privada; confeccionam trajes para ocasiões como comendas, festas sociais e assinam o terno de duas bandas de rock de Florianópolis, Os Chefes e o Quarteto Banho de Lua, estilo de música da qual ele e a esposa Camile Gomes Rzatki apreciam. Também investe na marca Ivo Humberto Alfaiate no estilo prêt-à-porter (camisaria, ternos e paletós), fabricados em série para comercialização em atacados. Uma maneira de acompanhar a evolução dos tempos destinando produtos da sua própria grife às indústrias de confecção mas com espaço certo para a alfaiataria.
Durante Congresso Panamericano de Alfaiates e Profissionais de Alta Costura em São Paulo, Ivo Humberto relata sobre a presença de muitos ‘oficiais’ de alfaiataria que estão idosos, os quais foram lá para contar sua rica experiência numa das atividades mais antigas do mundo. Dessa forma, o sombriense trajando confortável conjunto social com o toque clássico do chapéu Panamá, sente orgulho da arte milenar que representa. Segue com ela, resistindo ao tempo, enquanto realiza com gosto os caseados feitos à mão (somente para moldes mais elaborados); realça riscos, cortes na peça e alinha a costura.
Além desta inconstância, a moda, no contexto de vestuário é uma sentença de identidade que cada um carrega. A roupa que se veste diz muito da personalidade individual, por isso nem tudo que é fenômeno fashion cabe bem ao estilo, a ocasião, ao momento e ou a função que representa. “Não adianta querer inventar. Cada pessoa tem a sua essência com o seu lado discreto, clássico ou mais despojado”, pondera o alfaiate, Ivo Humberto de Souza Borba.