Linguiça Blumenau é patrimônio cultural

Iguaria típica de imigrantes alemães ganhou fama e virou ingrediente gourmet

Em um dos seus primeiros relatos sobre a vida do imigrante alemão no Brasil, escrito em 1885, o pastor, teólogo e escritor germânico Gustav Stutzer narra com uma dose de entusiasmo a fartura culinária com que viviam os habitantes da Colônia Blumenau apenas três décadas após sua fundação, às margens do Rio Itajaí-Açu.

“A arte de cozinhar das donas de casa aqui desempenha papel muito importante. Desproporcionalmente, vive-se muito melhor do que na Alemanha”, afirma o empolgado viajante.

No texto, Stutzer exalta o tamanho das cabeças de repolho, o café forte servido com pão de milho e mel “precioso” e a quantidade de carne de porco consumida pelos colonos, “inclusive na forma de linguiça fresca e todas as demais linguiças como os alemães as produzem”.

Nascidos da necessidade de se conservar carnes numa época em que não havia refrigeração, salames, linguiças e salsichas se tornaram ícones de várias tradições culinárias. Em Santa Catarina, mais precisamente no Vale do Itajaí, a Linguiça Blumenau ganhou fama de ingrediente gourmet e status de patrimônio cultural, prestes a obter um selo de Identificação Geográfica.

Atualmente, pouco mais de 20 pequenas e microempresas sediadas na região fabricam o embutido de forma artesanal, seguindo critérios de uma receita trazida no começo do século 20 por imigrantes instalados no que hoje é Pomerode. O município, divulgado como “o mais alemão do Brasil”, foi criado apenas em 1959, a partir de um desmembramento de Blumenau. Veio a autonomia, mas o nome da linguiça já estava estabelecido.

Apesar de atender um mercado relativamente reduzido – cerca de 90% da produção fica em Santa Catarina –, a Linguiça Blumenau fomenta novos investimentos no Vale do Itajaí. É o caso da Olho Embutidos e Defumados, que está duplicando o tamanho da sua planta em Pomerode. A nova estrutura, com 400 metros quadrados e investimentos na casa dos R$ 3,5 milhões, deve aumentar o quadro de funcionários de 27 para 35. A Linguiça Blumenau responde por 70% da produção da fábrica, de 45 toneladas por mês.

“A demanda dos consumidores por produtos regionais, feitos em menor escala, é grande e crescente. Buscamos fazer produtos diferenciados que mantêm características artesanais e que podem chegar a outros mercados, como Curitiba e São Paulo”, explica o técnico em alimentos Luiz Antônio Bergamo

Em 2006 ele comprou, em sociedade com o engenheiro civil Rolf Konell Jr., a marca Olho, criada em 1934 pelo legendário empreendedor pomerodense Hermann Weege.

Fabricada somente com paleta, pernil e toucinho suínos, a Linguiça Blumenau passa pelo menos dois dias dentro de defumadores abastecidos com carvão e serragem, em um processo artesanal que é essencial para garantir as características únicas do produto e obter, junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, o selo de Identificação Geográfica.

A proposta, formulada por nove produtores da região e liderada pelo Sebrae, busca garantir exclusividade no uso do nome Linguiça Blumenau para os embutidos fabricados em Blumenau, Gaspar, Timbó, Pomerode e Indaial. “Hoje tem gente em Curitiba fazendo linguiça e vendendo como se fosse Blumenau. A Indicação Geográfica vai proteger as características do produto e também os produtores da região”, avalia Margrit Konell, que em 2004 fundou com o filho, Fernando, a Konell Alimentícios. A Linguiça Blumenau, segundo principal produto da fábrica blumenauense – o principal é o torresmo –, vende cerca de uma tonelada por semana.

O engenheiro químico Andrey Patrick Pieritz Hartmann, filho do fundador da Fricar, de Timbó, também acredita que ações como o selo de IG vão gerar novos negócios. “Existe a perspectiva de aumento de produção. A Identificação Geográfica é um fator de divulgação turística importante para a nossa região”, avalia.

Fonte e imagens: FIESC Notícias

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