Sara Alano Spillere

Um talento musical neoveneziano

Contrariando o tradicionalismo das famílias neovenezianas em estudar ou tocar canções italianas, ou ainda, em participar de corais ítalos e grupos folclóricos de dança, a menina prodígio, Sara Alano Spillere preferiu acordes mais arrojados, o de violino, e com ilustre desempenho pelas suas delicadas mãos, começou aprendendo outros instrumentos aos 7 anos. Tal fase é época excepcional ao desenvolvimento dos músculos dos dedos, a fim da criança tocar teclado, por exemplo, sem grande esforço, segundo as teorias de ensino musical.

 

Os pais de Sara, Rossana e Onir Spillere, acreditando no aprendizado musical como ferramenta de socialização, inscreveram a filha na escolinha de música Musette, da professora Édna Regina Baumer, onde Sara teve contato com vários instrumentos, como flauta doce, violão, teclado, piano, percussão. Ter estas lições musicais bem jovem, mais precisamente desde os 4 anos, é a indicação do método Suzuki para as crianças serem estimuladas ao contato instrumental. Segundo o ensino, o ouvido humano experimenta muito cedo esta motivação externa, da mesma forma que acontece o reconhecimento da língua materna. Foi assim com Sara, uma noção instrumental muito precoce, e a partir dos 10 anos encontrou um afeto pelo clássico, começou então a tocar violino na Camerata di Venezia (especializada em executar música de câmara – camerata de violões e camerata de flautas), uma pequena orquestra de Nova Veneza formada por 40 membros, entre crianças e adolescentes, projeto este que recebia apoio do município. Seu primeiro instrutor do violino foi Moisés Souza, e mais tarde foi o regente Jônata Waterkemper, o qual foi o último a comandar as apresentações do extinto conjunto Camerata di Venezia em festas, igrejas, escolas e convenções por Nova Veneza e municípios vizinhos.

 

A associação Camerata foi uma pequena orquestra, porém, rica em conteúdo erudito e em talentos, cuja rotina dos alunos era de vivência com os elementos básicos para um belo concerto, envolvendo cordas (violinos, violas e violoncelos), sopros (flautas transversais, doce soprano, doce contralto e clarinete), percussão (caixa, bumbo, pratos, carrilhão, lira, triângulo e pandeiro meia lua), e teclado.

 

A estudante de Direito, violinista nas horas vagas, apreciadora da música popular brasileira (MPB), hoje com 20 anos, sabe da dificuldade do mercado dos músicos, e em formar grupos de estudo duradouros. “Hoje a mídia explora a venda de cantores e artistas com sucesso efêmero, e estes estilos são facilmente absorvidos pela grande massa, sobretudo, pelos jovens”, acrescenta Sara, declarando-se uma defensora da boa música clássica, a qual, segundo ela, deveria ser inserida como disciplina nas escolas. Tantas mentes brilhantes, talvez desiludidas durante a árdua trajetória, não tenham o espaço que mereceriam. “Os estilos mais populares ofuscam o brilho dos grandes e eternos clássicos, distanciados da maioria das pessoas, tornando assim o aprendizado caro e raro. Seria urgente a criação de projetos que oportunizassem o contato, desde criança com o mundo da música, contribuindo para um desenvolvimento saudável e estimulante. Estes são os passos para a formação da cidadania e quem sabe, para a profissionalização de grandes habilidades especiais”, finaliza a musicista.

 

Sua ligação com a linguagem musical diminuiu devido às obrigações acadêmicas, somente ensaia quando convidada a tocar com o Quarteto formado pelo professor Moises de Souza, entretanto, seu laço moldado desde cedo jamais será desfeito. Seu ouvido, coração, mente e concentração prosseguem sob a mesma influência artística lá da infância, este é o caminho certo, pois seus maiores ídolos como Mozart, Beethoven, Bach, Handel, Schumann iniciaram quando crianças e tornaram-se os mais célebres e completos compositores da música erudita.


Por Elisa Gabriela Slovinski - da Sul Fashion

*Uma publicação da ed.43º da Revista Sul Fashion (de maio/13). 

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