Simoni Coelho pinta com traços intensos sua vida e profissão

Artista plástica de Criciúma fala sobre seus dois amores: a família e a arte

Uma mulher forte, madura, determinada e cheia de inspirações artísticas. Essa é Simoni Tezza Coelho, artista plástica, natural de Morro da Fumaça e Criciumense por adoção e coração. Simoni, desde pequenina já alinhavava o que seria o seu futuro. Aos 20 anos - 1989 - estava formada em Artes Plásticas pela Unesc, e hoje contabiliza um volume esplêndido de obras, admiradas e procuradas pela sociedade de Criciúma e região, espalhadas ainda, em outros estados.

 

O esmero que Simoni coloca diariamente em cada criação revela a firmeza do talento recebido em seus quadros, esculturas, decoupagens, decoração de ambientes comerciais ou residenciais, os quais, segundo a própria artista, todos têm um significado único, normalmente referem-se a retratações de momentos e situações observados em lugares ou em singularidades da vida. No seu último vernissage-2010, Memórias de La Inspiración, Simoni se inspirou em lembranças marcantes de uma viagem que fez ao Chile. Contou a história daquela cultura através da criação de uma série de peças sobre as vinícolas, a gastronomia, as praias de Viña Del Mar e Valparaíso apresentando a coleção, composta por 60 peças, numa mostra em seu ateliê, onde criou espaços curiosos como maneira dos convidados sentirem a sua arte. Quadros em cima da piscina, jardim com espelhos e até um espaço para Pablo Neruda, uma homenagem ao poeta chileno, com biografia e imagens sobre ele. Dessa forma, a artista plástica criciumense transformou as lembranças pessoais em arte, resgatando as raízes culturais do vizinho latino americano.

 

Arte é isso! Ela desperta a alegria, habilidade, sensualidade. Seja por meio da pintura, escultura, pelo cinema, dança, música, esporte, teatro, ela está intrínseca no meio social.

 

Em seu estilo abstrato, Simoni Coelho se revela uma artista contemporânea com atributos surrealistas, encaixando-se na arte conceitual, cuja intenção está em causar várias percepções, algo para ser interpretado livremente. E sobre sua ascensão artística, Simoni nos revela: “Tenho guardadas minhas artes de quando comecei a pintura acadêmica, aquela que você retrata exatamente o objeto como ele é. Aí fui passando por fases, estilizando mais as formas, até chegar como está agora, mas sempre exercitei mais os moldes surreais. Quando percebi que me encaixava no estilo surrealista, procurei me aperfeiçoar e fui aprender elaboradas técnicas na Itália, no Instituto Michelangelo.”

 

Um belo exemplo da arte conceitual de Simoni foi a criação de uma instalação artística sobre as minas de carvão de Criciúma, que segundo ela, resultou no seu trabalho mais expressivo, pela conexão direta que teve com o público. “Considero como um grande trabalho. Em 2002, embaixo do terminal central da cidade, eu e mais dois artistas plásticos simulamos uma mina onde as pessoas interagiam entrando num túnel escuro, um vagão de 20 metros tomado por xilame (resíduo líquido de carvão), usando os mesmos equipamentos utilizados pelos mineiros, como botas e capacetes. Uma verdadeira instalação que teve como objetivo instigar as sensações das pessoas, e onde pudemos observar os vários olhares,” relata.

 

Os pincéis de Simoni fluem com naturalidade e estilo depois dos sentidos vividos durante suas experiências. A artista sai a passeio e traz na bagagem a criatividade: “A arte na minha vida é constante, o artista respira arte 24 horas por dia, tudo o que você vê, todo lugar que está, observa cuidadosamente para tirar algo a ser transformado em artístico. Nunca tiro férias, pois todo lugar em que estou, passo a imaginar alguma criação. Passei o réveillon em Copacabana-RJ, vendo o show de fogos de dentro de um navio, e parava sob cada olhar meu, uma inquietude para expressar aquele sentimento. O artista trabalha com a observação,  o contato visual representa 90%  e os outros 10% é a emoção na hora que está criando.”

 

A personalidade irrequieta de Simoni Coelho jamais assenta. Outros compromissos de mulher, mãe e empresária fazem parte do seu dia a dia. Ela possui seu atual ateliê na parte superior da empresa da família, a Marmorart (Comércio de pedras com 20 anos em Criciúma). Desse modo, além de desenvolver suas artes no escritório, é mulher de negócios: “Faço a parte financeira e comercial da Marmorart ao lado do meu esposo Nico. Tenho dois filhos, a Vitória, de 13 anos e o Antônio de 18, um menino especial que necessita mais da minha atenção, e que pra mim representa uma missão aqui na terra, um privilégio ter este desafio,” fala comovida.

 

Com maestria, Simoni encara como aventuras as suas dificuldades, contando com o apoio incondicional dos familiares, os pais Pedro Tezza e Zelinda, as irmãs Vivi Tezza Pavan e Patrícia Tezza Sandrini, os filhos e principalmente do marido Nico Coelho.

 

De acordo com ela, toda vitória dela é vitória também da família: “Tudo o que faço não teria tanta importância e grandeza, talvez não desse tão certo, se não tivesse o companheirismo de Nico e a vibração dos meus filhos. Nico é o meu maior incentivador, admira o que eu faço e isto só me faz bem”, comenta alegremente.

 

Tanto incentiva que colabora diretamente com as engenhosidades da esposa. Em 2008, uma encomenda do Hotel Porto Sol, na Praia dos Ingleses, rendeu 103 peças muito bem elaboradas, que levaram oitos meses para serem planejadas, criadas e produzidas.  Nesse trabalho, Simoni criou um painel de 3x2m alusivo ao folclore do boi de mamão, e contou com a ajuda de Nico, afinal a grande invenção teve de ser  transportada até lá.

 

O conjunto do relato de Simoni Coelho com a qualidade de pessoa digna e de faculdade inventiva, mais parece uma prosa épica pela história de vida e ainda espaço para brilhar.

 

Neste momento é acertado o trecho do verso de Pablo Neruda: “(...) Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade”. (Do poema ‘Morre Lentamente’). 

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